
Nos últimos anos, o Brasil tem vivido uma verdadeira explosão no interesse por apostas online, as chamadas bets. Essa modalidade vai muito além do lazer, tornando-se fonte de prejuízos profundos à vida financeira, familiar e emocional. Promessas de ganhos rápidos, propagandas invasivas e o acesso facilitado pelo celular formam uma combinação perigosa, capaz de levar ao vício. Mas até onde esse problema chega? E por que ele também deve preocupar quem planeja aposentadoria e segurança financeira?
A ludopatia, ou transtorno do jogo, é definida como um comportamento persistente e recorrente de apostas que leva o indivíduo a perder o controle, priorizar o jogo em detrimento de outras atividades e insistir mesmo diante de prejuízos. Esta condição limite é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde desde 2018 como uma doença que exige atenção e tratamento.
Um dos principais fatores que contribuem para a disseminação do vício em apostas online é o acesso quase contínuo por meio de smartphones. Aplicativos, sites responsivos, métodos de pagamento eletrônicos como Pix e cartão de crédito, além de notificações constantes e campanhas com influenciadores digitais, criam uma porta aberta para o jogo a qualquer hora do dia. Tudo favorece a transição de um simples passatempo para um hábito compulsivo. Esse cenário é ainda mais preocupante entre jovens: adolescentes e adultos em início de carreira estão entre os que mais relatam apostar com frequência ou conhecer alguém próximo envolvido na prática.
Alguns números ajudam a dimensionar o problema. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que 10,9 milhões de brasileiros fazem uso arriscado de apostas, sendo que 1,4 milhão já apresenta transtornos de jogo com prejuízos pessoais, sociais ou financeiros. Entre 2018 e 2023, os gastos com apostas esportivas aumentaram 419%. Em determinadas faixas de renda, as bets já representam até 76% dos gastos com lazer e cultura, o equivalente a cerca de 5% do orçamento destinado à alimentação. De acordo com estimativa do Banco Central, os brasileiros apostam cerca de R$ 30 bilhões por mês em apostas. Nessa busca pelo dinheiro fácil, muitos jogadores deixam de pagar contas básicas e, em casos extremos, perdem o próprio patrimônio em decorrência da jogatina.
Levantamento do PoderData, realizado em setembro de 2025, mostrou que 36% dos brasileiros com mais de 16 anos já fizeram algum tipo de aposta, o que representa cerca de 56 milhões de pessoas. Outro estudo da Unifesp aponta que mais de 66% dos apostadores de bets apresentam comportamento de risco ou problemático, índice significativamente superior ao de outras formas de jogo.
Esse comportamento compulsivo tem reflexos diretos sobre a vida das pessoas, das famílias e da economia. Endividamento, falência pessoal, comprometimento da saúde mental, isolamento social, perda de bens e abuso de crédito são apenas alguns dos impactos. No plano coletivo, observa-se a retração do consumo em outros setores e o aumento da inadimplência, afetando toda a cadeia econômica.
E o que a previdência tem a ver com isso?
Quando o descontrole com apostas compromete o orçamento doméstico, sobram menos recursos para o futuro. O dinheiro gasto nas bets compete diretamente com a capacidade de poupança e reduz o potencial de acumulação previdenciária. Além disso, as dívidas decorrentes dessas práticas costumam ter juros elevados, corroendo rapidamente qualquer patrimônio construído ao longo dos anos. Famílias que utilizam aposentadorias, pensões ou benefícios previdenciários para cobrir perdas em apostas tornam-se ainda mais vulneráveis financeiramente.
O apelo do dinheiro rápido é antigo, mas as apostas online o tornaram mais acessível, e, portanto, mais perigoso. Quando um entretenimento aparentemente inofensivo invade o orçamento e ameaça a estabilidade financeira, deixa de ser apenas passatempo. Torna-se um risco real, capaz de comprometer o futuro e a tranquilidade que todos desejam alcançar com planejamento, previdência e segurança financeira.
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4 respostas em "Quando o sonho do “dinheiro fácil” arrisca o futuro nas apostas online"
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